23/02/2009

Lágrimas


O que estará dentro de uma
Lágrima?
O que caberá dentro de uma
Lágrima?

Enchem de sentimentos,
Toldam a visão...

O que estará dentro de um
Olhar?
O que caberá dentro de um
Olhar?

- Cabe o mundo.
- Cabe a vida.
- Cabe a morte.
- Cabem as lágrimas que lavam aquilo que os olhos vêem.

Pontes

A vida tornou-me um pouco céptica relativamente ao ser humano, este está cada vez mais egoísta e egocêntrico, centralizando as suas angústias, receios, medos, em si mesmo ignorando assim os sentimentos alheios. Foi-nos ensinado a utilizar denominações, porque a necessidade de expor o que sentimos é grande, e utilizando as palavras as situações parecem mais simples, …, depois caímos no erro de utilizar mal as palavras, ou pior, a nossa interpretação do que sentimos é errada, e continuamos preocupados em tentar acertar nas palavras e esquecemos de ver os sinais, de ouvir o que nos tentam transmitir.

E será que alguém consegue ouvir-nos? Será que alguém vê os sinais que conscientemente, ou não, transmitimos?

Estaremos realmente tão egoístas? Que nem se quer conseguimos estabelecer pontes com os outros? Quando as pontes existem, conseguimos mantê-las?

Seria imaturo, tentar responder a qualquer uma das perguntas.

Primeiro, porque bem ou mal vamos tentando relacionarmo-nos com alguém (a solidão estilhaça a alma).

Segundo, quando conseguimos estabelecer a ponte, vamos sempre fazer tudo para mantê-la, pode não ser da forma mais correcta, pode a outra parte, não retribuir da mesma maneira, não se entregar com a mesma intensidade, mas o medo de falhar é forte, daí utilizarmos tudo o que podemos e muitas vezes o que não podemos.

As pontes vão ruir na mesma, porque a base onde assenta é frágil porque na maior parte das vezes não fixamos a estrutura como deveríamos.

16/02/2009

Um estado de conciência.

Nestes últimos dias tenho servido de suporte a pessoas que me estão muito próximas e que a vida os está a colocar em situações difíceis. Tenho arranjado forças onde julgo não existir para lhes tentar transmitir um pouco de segurança, fico dura, envelheço momentaneamente, para tentar mostrar um pouco de mais maturidade (aquela que ainda não tenho, ainda não adquiri), não tenho a certeza de estar a conseguir cumprir o meu papel junto dessas pessoas.

Chego até a pensar que em toda a minha vida, não consegui e nem vou conseguir desempenhar de uma forma correcta os papéis que a vida tem para mim, o de filha, o de mãe, o de amiga… e todos os outros que não vou mencionar.

Sinto-me esmorecer por entre um inúmero de situações, quando deveria estar bem firme para conseguir suportar o que ainda vai vir por aí… sinto que de momento estou a catapultar todas as minhas energias para erguer ou ajudar a erguer os outros, ao mesmo tempo que vou indo abaixo a sumir-me por entre areias movediças, a anular-me.
São momentos de solidão, de profunda solidão que tomo consciência de tudo isto, que tenho feito de pilar, e que estou a ruir. Falta-me saber até quando! Afinal também preciso de ter onde me segurar.

As dúvidas assumem proporções anómalas, até aquelas que julgamos não mais existir.

Este mistério – posso chamar-lhe o mistério da vida? – é um mistério maior até que o mistério da morte. O facto de sermos, de termos sido «chamados» para existir, tem uma força que ultrapassa e vence as precariedades. Até poderia dizer que se somos, se estamos vivos, de certa forma a morte não pode realmente existir.


Susanna Tamaro em o Regresso a casa

Quando crescer!

Um dia, quando crescer

Quero saber ler todos os sinais.

Quero saber responder a todos eles.

Quero poder emitir todas as sensações

Que vou sentir,

Que me farão sentir.

Um dia, quando crescer

Quero saber entregar-me

Sem reservas,

Medos ou limitações.

Um dia, quando crescer

Quero que o meu eu

Seja simplesmente,

EU.

01/02/2009

Consciencialização, ou talvez não!!!!

Vivo inconscientemente ao mesmo tempo que vou tentando perceber tudo o que se passa à minha volta. Tento captar todos os sinais, ou a falta deles. Tento interpretar tudo de modo a que não me escape nada, tentar consciencializar-me. Mas penso não ter essa capacidade, dou por mim a pensar inúmeras vezes que não consigo mesmo perceber determinadas coisas, sinto a minha racionalidade fugir-me por entre os “dedos”, assim como se fosse água que vou tentando agarrar e estagnar nas mãos para saciar a minha sede… mas a água corre, consigo apenas beber pequenos goles, mas sem o efeito pretendido, o conhecimento.

Pior que tudo isto é que sinto que tudo me foge, as próprias pessoas entram e saem de minha vida, muitas vezes sem pedir licença…ter percepção disso é duro, e curiosamente não as sinto fugir porque não gostam da minha presença, maioritariamente é exactamente pelo sentimento oposto…como pode alguém fugir de nós se gosta de nos ter por perto. Será que
inconscientemente eu utilizo os mesmos métodos? Com medo de magoar alguém? Com medo que me magoem?

Haverá possibilidade de descortinar algum dia o labirinto que nós transformamos os nossos pensamentos, e finalmente descobrir todos os porquês, dissolver todas as duvidas…

Eu continuarei à procura das respostas…

23/01/2009

Desabafo

Apetece desaparecer, esquecer por um momento quem sou, fazer um retiro da vida e refugiar-me nos meus pensamentos, sem que nada me incomode. Sinto-me tão mal por não conseguir fazê-lo, por não poder fazê-lo! Não posso simplesmente carregar no botão "desligar" e sair da realidade. Se as coisas fossem assim... tão simples. Sinto-me uma fonte de água seca, seca de tudo. A água começou a escassear, depois as pessoas que se abasteciam nela e depois a própria água parou, ficando só a fonte de pedra, dura, cinzenta, fria e abandonada, que com o passar do tempo se desgasta pela erosão. E eu não quero ficar assim. Quero que a fonte volte a dar água, quero que as pessoas se abasteçam de mim, porque tal como a água sou essencial nas suas vidas. Quero que bebam de mim, não sofregamente, mas que apreciem que degustem o meu paladar. Esta deve ser a metáfora mais comprida de que eu alguma vez me lembrei e escrevi, mas acho que é a que melhor me descreve.

Porque é que as coisas não são mais fáceis de gerir, porque razão complicamos a vida de tal maneira que não conseguimos ter clareza para ver uma luz ao fundo do túnel? E será que a luz existe? Ou passamos a vida a vaguear num beco escuro e sem saída?

Palavras

Palavras doces
Proferidas por uma
Boca lânguida
E sedenta de amor.

Palavras quentes
Que aquecem
Os corpos frios
De solidão.

Palavras que encaixam,
Num mundo imperfeito
Vão dando cor
E alivio á alma.

Num mundo imperfeito
Onde impera a dor
E o descontentamento.

Até ao dia,
Em que as palavras
Deixam de ser palavras
Para serem gestos.